Fundear

Prêmio IEAVi 2011/2012, Incentivo à Produção de Artes Visuais

Galeria Augusto Meyer – Casa de Cultura Mário Quintana – Porto Alegre – RS

 

Fundear

Os trabalhos de Rogério Severo são construídos com materiais coletados, objetos que cruzam seu caminho, seja pelo acaso do percurso ou pela sorte da procura. Suas instalações reorganizam esses materiais relacionando-os entre si e ao espaço que ocupam, formando uma constelação construída a partir de conjugação, deslocamento, tensão e equilíbrios. Rogério nomeia de desenho sua estratégia, uma vez que esta é a concepção imediata para a associação desses elementos: um desenho no espaço se estendendo e formando linhas que amarram e conectam o nosso olhar. O desenho em muito está associado a ideia de projeção. O modo como as ideias são criadas e lançadas através dele se refere tanto ao passado como ação quanto ao futuro como possibilidade. Uma relação que fundamenta muito mais coisas na vida e que a arte procura nos mostrar na simplicidade de uma linha.

O desenho é a linguagem permeável do através trazendo para junto de sua sintaxe uma infinidade de meios e materiais. É essa abertura conceitual que Rogério utiliza para fazer convergir os elementos de seus trabalhos transformando suas funções e o espaço onde eles se instalam. O desenho é também gregário, associativo não importando o quanto heteróclito sejam suas partes. Uma linha toca qualquer hiato (o transforma e o utiliza) na construção de sua significação. Quando trabalhamos com material coletado percebemos que o resto e o achado já possuem uma história de si, um significado que carregam consigo como um potencial para novos usos. O desafio é reelaborar esse conteúdo. Rogério dispõe os elementos de sua instalação em estado de projeção: testa a resistência das associações, as tensões entre os diferentes materiais e seus desdobramentos. Assim caminhamos entre linhas retesadas na inflexão de sua ruptura; pesos que concentram essa tensão e que esculturam a imobilidade e o devir da instalação como se assistíssemos a um desenho no dinamismo de sua fatura. Se os trabalhos de Rogério tem no desenho sua ideia, seu fundamento, a bricolagem parece guiar seu modo de proceder. Levi-Strauss nos ensina que a bricolagem em sua concepção mágica é utilizada na construção de estruturas que procuram dar sentido aos eventos. A concomitância (e mesmo alternância) entre evento e estrutura, seu embaralhamento, produz armadilhas poéticas que se armam na forma de arte – meio caminho entre magia e ciência. Como armadilha as instalações que Rogério propõe devem ser tencionadas, prontas e desarmadas, qualquer que seja a ordem. Uma armadilha vive da oportunidade.

Flávio Gonçalves  – 2012

“A Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), por meio do Instituto Estadual de Artes Visuais (IEAVi), informa que Rogério Severo é o vencedor do Iº Prêmio IEAVI -Incentivo à Produção de Artes Visuais. (…)

Participaram da comissão julgadora coordenador de cinema, vídeo e fotografia da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, Bernardo de Souza, a artista visual e professora da ESPM Cláudia Barbisan, que coordena  o Espaço Cultural da entidade e a artista visual Elaine Tedesco, professora do Instituto de Artes da UFRGS.

O objetivo do prêmio é incentivar, mostrar e divulgar a produção contemporânea de artes visuais, em suas diversas expressões, fortalecendo o setor e o desenvolvimento da cultura.  (…)”

Texto: Vera Pinto
Edição: Redação Secom