Pinturas

(…) Desta forma, a arte de Severo, não é uma narrativa ingênua apoiada numa espécie de resgate temático de um regionalismo tardio ou de meras lembranças da infância no campo. Estamos diante de uma obra contemporânea que expressa uma narrativa plástica que nos conecta a dimensões complexas da subjetividade humana, daquilo que é fragmento da memória do artista que se mescla a memória daquele que vê e que, ao mesmo tempo se desfaz num relâmpago de imagens jogadas numa temporalidade efêmera.   (…)

Trexo do texto do Prof. Thomas Josué Silva.

Mundos, Fragmentos, Memórias e Tempo….

 

Manchas abstratas, traços e figuras fundam um enredo pictórico que nos convida a um mundo imaginário. Um mundo habitado por fragmentos humanos – animais e homens do campo – outros, compostos por objetos culturais que fazem relação com lembranças acerca da memória cultural do artista.

Essa memória cultural, refletida muitas vezes em suas narrativas visuais, não se resume a um passado de lembranças da infância do artista ligada a cultura do campo num território fronteiriço ou seja, a Campanha Gaúcha. Pelo contrário, essa memória é viva e se dinamiza com outras vivências do artista, com outras múltiplas possibilidades subjetivas que o cotidiano atual reflete.

Portanto, não estamos diante de uma volta romântica de um passado melhor ou pior. Sobretudo, estamos diante de criações visuais fortes e atuais. De criações expressivas repletas de mistérios que fazem destas paisagens aparentemente insólitas, paisagens que falam e que expressam com o vigor do domínio das cores, um mundo poético e lírico capaz de traduzir um passado e um presente simultaneamente.

Um mundo lírico onde habita o movimento de figuras humanas mescladas a manchas, a traços firmes de um desenho que ao mesmo tempo revela um rosto longe outro perto. Um homem lá outro cá. Um animal no pasto outro jogado no espaço, uma criança no berço outra brincando no vazio.  Uma composição colorida que nos convida a viajar no interior de cenários imaginários carregados de força e mistério que o artista expressa com tanta competência plástica.

Desta forma, a arte de Severo, não é uma narrativa ingênua apoiada numa espécie de resgate temático de um regionalismo tardio ou de meras lembranças da infância no campo. Estamos diante de uma obra contemporânea que expressa uma narrativa plástica que nos conecta a dimensões complexas da subjetividade humana, daquilo que é fragmento da memória do artista que se mescla a memória daquele que vê e que, ao mesmo tempo se desfaz num relâmpago de imagens jogadas numa temporalidade efêmera.

Talvez seja este o mundo e o tempo que todos nós estamos vivenciando em nossas cotidianidades. Passado e presente, lembranças, perdas, cansaços, vazios e prazeres. Fragmentos humanos jogados num tempo sem tempo.

Assim, orgulhosamente, apresento a obra de Rogério Severo, como um construtor de mundos e tempos que cada um de nós deverá tentar encontrar um sentido e um destino.

 

 

Prof. Thomas Josué Silva.

Crítico de Arte, Antropólogo e Pesquisador.