Linhas de Espera

Porão do Paço Municipal – Porto Alegre – RS – 2010

Prêmio Açorianos 2011

Linhas de Espera

Os trabalhos de Rogério Severo são construídos com materiais coletados pelo artista – coisas que cruzam seu caminho, seja pelo acaso do percurso ou pela sorte da procura. Suas instalações reorganizam esses materiais relacionando-os entre si e ao espaço que ocupam, formando assim o cenário de um ritual: conjugação, deslocamento, tensão, equilíbrios. Linha de Espera é como Rogério nomeia sua estratégia, uma vez que é o desenho a linguagem imediata para a associação desses elementos. Um desenho no espaço com linhas que amarram e ligam, que direcionam o nosso olhar, que unem as coisas à força de sua significação. O desenho em muito está associado a ideia de projeção. O modo como as ideias se distendem e são lançadas se referem tanto ao passado como ação quanto ao futuro como possibilidade. Ele é a linguagem permeável do através, trazendo para junto de sua sintaxe uma infinidade de meios e materiais.

É essa abertura que Rogério utiliza para fazer convergir os elementos de seus trabalhos. Se a linguagem do artista tem no desenho seu fundamento, a bricolagem parece ser o procedimento utilizado em seus trabalhos, através da construção de estruturas a partir de elementos heteróclitos. Em sua concepção mágica a bricolagem serve a construir estruturas para significar eventos; na arte ela procura significados através da construção de estruturas – meio caminho entre magia e ciência. O resto e o achado já possuem uma história de si. O desafio é reelaborar esse conteúdo. Rogério coloca os elementos de sua instalação em projeção; testa a resistência das associações entre os diferentes materiais e seus desdobramentos. Assim caminhamos em meio a fitas de serra tencionadas na inflexão de seus percursos; pesos que esculturam a imobilidade e concentram assim a tensão do sistema como se assistíssemos um desenho no dinamismo de sua fatura. A espera é que o tempo se desprenda e avance, libertando o devir do projeto.

Flávio Gonçalves
Setembro-2010

Linhas de Espera

 

Montar estas estruturas diretamente no espaço me proporciona a sensação de estar, ao mesmo tempo, manipulando o projeto e a obra. É como construir desenhando sem a interferência do papel ou planos pré-concebidos deslocados do canteiro de obra.

Valho-me do improviso, das tentativas e das adaptações sugeridas pelo próprio espaço.

Utilizo os mais diferentes materiais, todos, de alguma forma, pré- selecionados ou construídos com a intenção de valorizar o potencial de conjugação entre eles, e por sua vez, com um suposto espaço expositivo. 

Tudo transita entre o macro e o micro, o todo e o especifico. É unindo as partes que construo grandes estruturas e, separando-as ou fragmentando-as, que procuro o detalhe ou o “imperceptível”.

O desenho que busco não é estanque, é flexível podendo ser desfeito e refeito a qualquer momento, basta reorganizar as peças, recolher e estender as linhas.

Ao manipular linhas e lâminas de aço, ao invés de papel e lápis, encontro a liberdade de prescindir de um suporte definitivo e do comprometimento com uma afirmação final de trabalho. Intencionalmente, deixo à mostra as possibilidades de reconstrução, a percepção do frágil e do efêmero. É como desnudar o processo e os diversos caminhos percorridos. O que está à mostra não é um projeto acabado, e, sim, possibilidades, fragmentos, “intenções”.

Montagem da exposição