Arqueação – 4º Prêmio IEAVi

Galeria Augusto Meyer – Casa de Cultura Mario Quintana

Porto Alegre – 2016

 

Arqueação, de Rogério Severo, apresenta um arranjo construído com linhas tencionadas diretamente no espaço, que podem ser reconhecidas em caniços telescópicos e em estruturas de objetos náuticos, esqueletos, como canoas e caiaques. Estas linhas aparecem na maioria das vezes em forma de arco.

Clóvis Martins Costa, professor e artista plástico, no texto de apresentação da mostra, comenta: “(…) O gesto de arquear engendra uma tensão específica. Inflexão de uma força que se contrapõe à resistência de determinada natureza. (…) Do contato entre a lâmina d’água através da qual se espreita a possibilidade do abismo (as águas profundas) e o casco do barco, irrompe-se o espaço flutuante do desenho de Rogério Sever”.

Arqueação

Uma embarcação precisa de uma estrutura arqueada para se manter sobre as águas incertas que a esperam. O gesto de arquear engendra uma tensão específica. Inflexão de uma força que se contrapõe à resistência de determinada natureza. É necessário vergar a madeira que serve de ossatura do (b)arco, a partir das extremidades, para que a tensão seja distribuída pelo corpo do objeto náutico.
Seu destino é o aberto dos rios, a indeterminação oceânica. Mesmo no leito espelhado de um lago aparentemente calmo, a embarcação demanda tensão para não afundar. Do contato entre a lâmina d’água através da qual se espreita a possibilidade do abismo (as águas profundas) e o casco do barco, irrompe-se o espaço flutuante do desenho de Rogério Severo.
Os procedimentos de Rogério partem da astúcia no manejo dos materiais que lhes são caros: linhas de pesca, chumbadas, boias, varetas, madeiras, lâminas metálicas, serras, sargentos, tornos e barras de ferro. Objetos provenientes de um estaleiro real, portanto sonhado, ou vice-versa, no qual este artista-pescador garimpa o que for do seu interesse para construir embarcações. Suas invenções são veleiros, galés, jangadas destinadas à arqueação do devaneio.
Na iminência da distensão que poderia descambar o desenho, como de fato ocorre na desmontagem de suas instalações, estas estruturas singram o olhar de quem examina rigorosamente suas armadilhas. Logo, o barco resiste à possível distensão, vista aqui como mau tempo, reviravolta das marés.
O calado de uma embarcação indica a profundidade possível de suas incursões. No espaço de silêncio proposto por Rogério, naveguemos. O desassossego é preciso como o tiro de um arco.

Clóvis Martins Costa
Lisboa, janeiro de 2016